Desde
pequena, a moça se acostumara a conviver com tecidos, tesouras, agulhas
e linhas de diversos padrões e cores. Sua mãe, exímia costureira,
sustentava toda a família com muito trabalho e honestidade.
A
moça casara com um frio empresário que gastava as energias com os
negócios e dava muita importância ao que ela nem sempre julgava
essencial.
Já
estava acostumada a ver o marido cortar os passeios com os filhos por
um almoço de negócios, já não agüentava ouvir o marido falar em cortes,
mudanças precipitadas... Isso sem falar nas inúmeras vezes que foi
cortada ao tentar argumentar, discutir os problemas do cotidiano...
Numa
rara noite em que todos estavam em casa, a caçula começou a implicar
com o irmão. O pai, sempre ocupado, não suportava o barulho e sem querer
ouvir ou entender a situação mandou as duas crianças para o quarto, sem
conversa.
A mulher simplesmente pegou sua caixinha de costura com alguns retalhos e chamou o marido:
- Agora não, meu bem!
- Agora sim, querido!
O
homem percebendo que não tinha escolha, sentou-se e ficou olhando os
retalhos, a agulha, a tesoura, carretéis de linha sem nada compreender.
- Meu bem, para que serve a tesoura? - perguntou brandamente a mulher.
- Para cortar, aparar...
- E a agulha?
- Para costurar, ora!
- Você consegue fazer uma colcha de retalhos só cortando?
- Na verdade não faria de jeito nenhum - não sei costurar, lembra?
- Não estou brincando! Você já viu ou soube de alguma costureira que costura sem linha e agulha, só com tesoura?
- Claro que não, meu amor.
-
Minha mãe me falou um dia, quando meu pai nos deixou, que nossa família
era como uma colcha de retalhos. Cada um de nós era um retalho
colorido. Para que nossa colcha fique sempre bonita precisamos usar a
agulha e as linhas.
- E daí?
-
Daí que você só sabe usar a tesoura. Corta nossos momentos de lazer,
corta a minha palavra, corta o diálogo com as crianças. Você só separa,
separa...
- Eu?
-
Sim. Aprenda a unir nossa família. Aprenda a unir o seu trabalho à
nossa família, unir os seus amigos aos meus... Qualquer dia você
perceberá o quanto nos cortou de sua vida e talvez seja tarde.
O marido nada disse - sinal de que ia pensar, refletir. Mudanças demandam tempo.
-
Não vou mais falar sobre isso. Só quero que você pense, tá? Estou no
quarto das crianças. Vou costurá-las porque não quero dois retalhos tão
importantes de minha vida separados. Boa noite!
- Boa noite.
Dali
a meia hora o marido entrou no quarto em que brincavam as crianças,
enquanto a mulher costurava uma bonita colcha de retalhos. A cena
enterneceu o homem e o fez juntar-se aos três. Abraçou-os e os levou
para jantar.
Do livro: Histórias que Motivam
Autor: Assis Almeida
Editora: Premius Editora
Fonte: www.metaforas.com.br
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